3 semanas em Israel – parte 2

por Andre Feltrin

Continuando o papo sobre essa experiência de três semanas em Israel, passamos à avaliação de fatores que enxergo como principais para que essa grande mistura funcione exponencialmente e funcione:  urgência, respeito ao tempo, disciplina e conhecimento, capacidade crítica para definir um problema real e relevante, coragem para arriscar, senso de colaboração e tradição.

Vamos olhar cada um deles com um pouco mais de calma:

URGÊNCIA

Este povo, desde a libertação do Egito tenta estabelecer seu lugar. Longa história. A duras penas, após a Guerra dos Seis dias, passando pelo Acordo de Oslo e os Abraham Papers – nada foi simples. nada está simples. Status Quo – uma expressão várias vezes utilizada por todos os personagens, que expressa o “acordo possível”, que satisfaz a todos até a página dois. Um pouco mais de conversa ou uma pergunta um pouco mais capciosa e ficam visíveis as divergências. E as angústias e ameaças de cada lado. Israel, Síria, Jordânia, Ira, Faixa de Gaza. Todos têm alguma razão, seus pontos de vista e renunciaram a algo, em algum momento. E há extremos. Em todos os lados.

Esta tensão no ar, visível no quotidiano – do ortodoxo armado rezando na sinagoga ao menino na praça tocando piano com um fuzil pendurado no ombro. Do palestino reclamando que não tem oportunidades, pois estão trancados entre fronteiras, ao árabe simpático que ganha a vida convivendo com uma cultura que ele aceita. De novo, o status quo.

Esta tensão que é anestesiada pelo tempo e que surge a cada atentado extremista (Hamas, Hezbollah, Isis, Boko Haram, Al Qaeda) ou manifestação religiosa de alguma forma alimenta a urgência de fazer.

Certo de que esta solução das bolhas de assentamentos palestinos não são exatamente uma “solução”. Viver o Agora. Já.

RESPEITO AO TEMPO

Aprendi aqui que antes da medição oficial do tempo (Relógio de Yafo), havia um rabino responsável por contar o tempo. Tão importante e necessário, para medir o dia e a noite, o tempo de plantar e colher, o tempo de celebrar e rezar. O tempo.

Nesta terra, o bem mais precioso de cada ser humano é o tempo que ele dispõe. E deverá ser aproveitado para o desenvolvimento do bem comum, alinhando interesses pessoais na construção de um mundo melhor.

Este respeito ao tempo, cria um certo compromisso de fazer. Este ponto tem significado. Não importa qual seja o interesse. Encontre algo que combine com seus interesses e trabalhe produtivamente, dizem eles a todo momento.

DISCIPLINA E CONHECIMENTO

Aos 18 anos, cada garoto israelense tem 3 anos de serviço militar obrigatório. E cada garota tem a opção de dedicar 2 anos da mesma forma. E até os 40 anos, todos que tiveram esta formação ficam obrigados a dedicar um mês de suas vidas e carreiras à disposição do Exército de Israel. A qualquer momento, podem ser chamados para uma missão. E são aprendidas competências para guerra. Treinamento duro – nos disseram – que faz valer cada dia de folga com os seus. Após o exército estes seres humanos com casca são estimulados a viajar um ano pelo mundo, para terem referências de outras culturas e poderem se olhar no espelho. E se reconhecer.

A noção de disciplina e responsabilidade, o conhecimento aprendido além de formar um exército, forma um time com competências para o conflito. De todo o tipo. A grande maioria deste exército exerce atividades administrativas, que ensinam a ter o compromisso da entrega, a não hesitar, a não deixar o outro na mão. Desde cedo, fica claro que a qualquer momento eles podem ser chamados a desempenhar um papel crucial ao estado. Como nação.

O resultado deste tempo dedicado ao exército, são seres humanos que tem a sensação de poder tudo. Nada pode ser mais complicado para estes garotos e garotas, do que estar expostos a realidade de um conflito. E cada família tem histórias para contar.

CAPACIDADE CRÍTICA PARA DEFINIR UM PROBLEMA REAL E RELEVANTE

No início dos anos 2000, o Mar da Galiléia (que não é mar) estava secando. E as crianças desta geração cresceram tendo que controlar a água que consumiam. Propagandas na TV pedindo à população que controlassem seu consumo ou a nação estaria ameaçada. Decidiu-se atacar este problema, pois ele ameaçava Israel como nação. Universidades, industria, cientistas uniram-se em um único propósito. Em 20 anos, Israel não depende mais do Mar da Galiléia que, by the way, continua lá. E lindo.

70% das casas utilizam água desalinizada (em 2 anos serão 100%) e 95% da Agricultura e abastecida com água com reuso. Há, neste deserto todos os tipos de frutas, verduras, legumes e grãos, suficientes para consumo e exportação. Incrível!

Muita gente pensando, definindo prioridades, focando em soluções, colaborando disciplinadamente para fazer a diferença. Uau!

Amanhã, na última parte, recomendarei alguns filmes e livros que valem a pena para quem se interessa por esse assunto.

Até amanhã!

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